sexta-feira, 24 de abril de 2009

Devagar se vai ao longe...

Às vezes me pego absorta olhando as árvores paradas, tranqüilas, ou balançando ao sabor do vento. Às vezes me pego sentada num banco de praça qualquer, observando as pessoas que passam apressadas - centenas delas – cada uma um universo repleto de desejos, angústias, sonhos, medos, vitórias, derrotas, tristezas e alegrias. E fico a pensar: para onde vão todas essas pessoas? o que pensam? quais suas histórias? o que fazem da vida? Têm filhos? Vivem sozinhas? São tantas as perguntas...
E essas pessoas correm, correm, encontram amigos pelo caminho e não têm mais tempo para ter uma pequena conversa. Acenam apenas, e, se param para conversar, tem que ser um papo rápido, pois o tempo cronometrado dos compromissos está chegando, prestes a engolir suas vítimas.
Muitas vezes, fico a observar o mar na sua imensidão e tranqüilidade, sempre ali, todo o sempre, com as suas águas indo e vindo, sendo influenciado pela lua com suas marés altas e baixas, como a própria vida.
O corre-corre, a pressa constante, a falta de tempo anda engolindo as pessoas, transformando-as em robôs, teleguiadas pelos compromissos que são tantos.
Trabalhar até o fim de suas forças para comprar aquele carro que viram na concessionária ou trocar por um outro mais potente; o celular mais sofisticado, pois só receber e fazer ligações não basta, a roupa da moda para parecer igual às bonecas produzidas em série – sem nenhuma graça; trabalhar para colocar o filho no colégio mais caro ou na universidade porque dá status (mesmo que não tenham condições de pagar as mensalidades), enfim, o homem correndo sempre atrás dessas efemeridades da vida que não trazem nenhuma felicidade aos seus corações.
Olhai os pássaros no céu, os lírios nos campos, o clarear da lua, as nuvens em formas de bichos ( alguém já viu isso?).
Existe um texto rolando na Net falando de um movimento que circula atualmente pela Europa, chamado Slow Food, que prega que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, curtindo seu preparo, no convívio com a família, com os amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe, e a base de tudo está no questionamento da “pressa” e da “ loucura” gerada pela globalização, pelo apelo à “quantidade do ter” em contraposição à qualidade de vida ou à “qualidade do ser”.
Essa atitude sem pressa não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais qualidade e produtividade, com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos estresse. Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer e das pequenas comunidades. Do local, presente e concreto, em contraposição ao global – indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.
Reserve um momento de tranqüilidade para você mesmo, sem o barulho da TV e do rádio – são sempre os mesmos programas, as mesmas músicas, as mesmas propagandas (outra loja de óculos na cidade, celulares e carros). Desligue todos esses aparelhos transformados em pseudo-companhias, em injeções de anestesia e fique sozinho por alguns instantes, reflita sobre a vida, como a está conduzindo, se é realmente isso que você quer fazer com ela.
A vida é uma eterna repetição dos dias, meses, anos, semanas, horas, minutos, segundos, e nós temos que reinventar sempre a cada dia com calma e tranqüilidade, transformar o que não está correto, mudar o que deve ser mudado, pular fora daquilo que não agrada mais, correr riscos, reinventar a toda hora, criar, usar a mente, tomar decisões e ajudar, ajudar sempre as pessoas necessitadas, pois de tudo o que existe no mundo, o mais importante é o amor fraterno, aquele que você pode compartilhar com todos – este é o verdadeiro sentido da vida. O resto é invenção dos homens. “Ainda que eu falasse a língua dos homens,ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor que reconhece o que é a verdade. O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece.” Isso é a vida. E como disse John Lennon “A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”.

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